Alta de mais de 30% assustou consumidores, que chegaram a pagar até R$40 em 5kg do grão
O arroz é um dos itens mais básicos da alimentação brasileira. Ele está presente nas mesas de grande parte da população tanto pelo sabor, quanto pela quantidade de nutrientes que oferece para uma alimentação balanceada e, até pouco tempo atrás, também pelo preço. Este último fator mudou, principalmente nas últimas semanas, em que os consumidores foram surpreendidos pela alta repentina de até 30% no valor do arroz nas gôndolas do supermercado. Para se ter uma ideia, um pacote de 5kg de arroz que costumava custar por volta de R$12 a R$15 até meados de julho, hoje custa entre R$20 a R$30 reais, tendo sido registrado em algumas regiões por até R$40.
Sendo um item tão básico, a alta do arroz doeu - e muito - no bolso dos brasileiros. A compra da cesta básica ficou mais cara, e o impacto não é apenas para as contas da casa, quem trabalha com alimentação também está sofrendo com essa alta repentina.
Mas, o que muitos se perguntam é: por que o preço do arroz subiu tanto?
Para responder a essa pergunta, alguns fatores devem ser considerados. Antes, precisamos voltar no tempo e entender que há cerca de 10 anos o arroz operava no Brasil de maneira estabilizada, sem muitas variações. Porém, essa estabilização não era rentável para o produtor, que sofria com um alto custo de produção – todo cotado em dólar - e um baixo valor de comercialização, tanto internamente quanto para a exportação. Este fator inclusive levou a muitos produtores deixarem o cultivo do arroz para investir em outras culturas, como a soja, ou pagar os custos da produção de arroz com a comercialização de outros grãos.
Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, consultoria especializada em informativos de mercados agrícolas, explica: “até o meio desse ano, o arroz ao consumidor brasileiro era o mais barato do mundo. O consumidor brasileiro pagava abaixo de 50 centavos de dólar o quilo, e no mercado asiático, o arroz beneficiado custa mais de 55 centavos de dólar por quilo para o consumidor. Essa corrida de preços onde o mercado saiu de R$15 reais, que era o preço trabalho até agosto de 2020, para R$20 a R$25 reais hoje, causou um impacto mas, na realidade, ele foi reflexo de uma correção de valores”.
Essa correção de valores de forma tão repentina para o consumidor foi impulsionada em grande parte por dois fatores: a alta no preço do dólar e a pandemia do novo Coronavírus.
A alta no valor do Dólar tornou o arroz brasileiro mais atrativo para outros continentes, mas aumentou o custo de importação
A qualidade do arroz brasileiro é uma das melhores de todo o mundo, e com o dólar operando acima de R$ 5 reais no país, exportar arroz do Brasil se tornou muito mais atrativo. Outro fator importante é que este ano a oferta do arroz foi menor devido aos problemas nas safras dos países asiáticos, o que levou uma alta na cotação do preço do grão.
Porém, apesar de ser um grande produtor, o Brasil também importa arroz dos países vizinhos como Argentina, Paraguai e Uruguai, e sofreu com a redução da oferta em países do Mercosul. E, com o dólar mais alto, o custo da importação ficou ainda maior. No ano passado, o Brasil importou mais de 750 mil toneladas de arroz e, em 2020 o valor já superou 417 mil toneladas. Já em exportação, o Brasil superou a marca de 1,1 milhões de toneladas, contra 1,06 milhões de toneladas em todo ano de 2019.
O fator Pandemia: aumento na demanda interna e externa
É impossível falar sobre o aumento no valor dos itens da cesta básica sem analisar o cenário causado pela pandemia do Coronavírus. Desde o surgimento do vírus em 2019, em Wuhan, na China, o país asiático já registrou um grande aumento na demanda interna do consumo de alimentos tradicionais, como arroz, soja, ovo e de animais não-exóticos, como aves, peixes e suínos.
E esse aumento foi sentido em todo o mundo. Com o isolamento as pessoas passaram a comer mais em casa e a demanda por alimentos cresceu. O resultado foi o aumento no preço do arroz, que subiu cerca de 30% em menos de 30 dias. “O impacto veio somente agora, no segundo semestre, porque quando as indústrias foram repor a matéria-prima para trabalhar o restante do ano, comprar o arroz em casca, e viram que tinha pouco arroz. Então nós temos uma safra que não atende à demanda”, ressalta Valmir.
Por conta disso, o Governo Federal liberou a isenção da Tarifa Externa Comum (TEC), na semana passada. Tal medida tem como objetivo estimular ações na cadeia produtiva, incentivando a importação de 400 mil toneladas de arroz de fora do Mercosul. Porém, este volume corresponde a menos de um mês no consumo interno. Por isso, a redução no valor do arroz nas próximas semanas não deverá acontecer de forma expressiva. Estima-se que a saca do arroz deva continuar acima de 100 reais nos próximos dias. “Dificilmente vamos voltar a trabalhar com o arroz a R$15 ou abaixo o pacote, porque é fora da realidade, é inviável. A indústria não sobrevive, o produtor não sobrevive, esse valor é inviável nessa nova fase do agro mundial”, completa Vlamir.
Porém, o consumidor pode ficar tranquilo, que não existe risco de desabastecimento do produto nas prateleiras. De acordo com a Conab, o Brasil deve chegar ao início da próxima safra com um estoque de pelo menos 500 mil toneladas de arroz.
Quando o arroz vai começar a baixar?
A isenção da TEC vai frear o aumento dos valores, mas o preço ainda deve continuar salgado para os consumidores. De acordo com os indicadores do CEPEA, o valor do arroz em casca no RS girou em torno de 100 a 104 reais na primeira quinzena de setembro, uma alta de mais de 30% em relação ao mês anterior.
Porém para a próxima safra 2020/21, a estimativa divulgada pela Conab em agosto é de um aumento de 12,1% na área plantada, e uma elevação de 7,2% na produção, que corresponde a 12 milhões de toneladas. Esta estimativa se deve a rentabilidade ao produtor, porém a produtividade ainda deve ficar negativa em 4,3%, mesmo com os ganhos da última safra 19/20.
No Rio Grande do Sul, que é o maior estado produtor de arroz no país, a área plantada de arroz vai crescer cerca de 3,5% em relação ao ano-safra anterior, o que pode chegar a 969,2 mil hectares, de acordo com as informações do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
Com o aumento da produtividade e o investimento cada vez mais constante em tecnologia, é esperado que ocorra uma baixa no custo de produção, que pode impactar no valor do produto na próxima safra, que deve chegar aos supermercados no primeiro semestre de 2021.
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